Eu sempre fui a pessoa que tinha dó de abandonar livros, por vários motivos: eles não são baratos, eu ficava com pena de deixar uma história incompleta, e ainda pensava: “Vai que a história fica melhor depois, né?”.
Mas, com o tempo, comecei a perceber que existem livros demais no mundo pra eu simplesmente perder meu tempo com aqueles que não me fisgaram. Sei que às vezes o problema pode ser o ‘mood’, tipo, eu não estar no momento certo para aquele tipo de leitura, mas outros livros… bem, eles simplesmente não me pegam.
Hoje é 19 de janeiro, e já abandonei três livros, por motivos bem distintos:
- O primeiro foi A Montanha é Você, da Brianna Wiest. Eu me lembro de ter visto uma indicação desse livro em um vídeo que falava sobre pessoas perdidas aos vinte e poucos anos – quem nunca passou por uma crise de idade? Coloquei na lista e comecei a ler, mas logo percebi que era pura conversa de coach. Li 54 páginas e, honestamente, já achei o suficiente.
- O segundo foi Quantic Love, da Sonia Fernandez-Vidal. Eu queria algo no estilo da Ali Hazelwood, com uma pegada de ciência e tal, mas, sinceramente, foi uma péssima ideia. Li 53 páginas e foi um esforço. A protagonista não me cativou, e os temas de ciência e física eram abordados de forma tão superficial que parecia mais uma curiosidade jogada ali do que uma exploração orgânica do tema.
- E, por último, comecei um livro nacional com um protagonista autista, caso você não saiba, eu sou autista e estava procurando um pouquinho de representatividade, mas logo na primeira interação com o pai do protagonista, ele soltou uma frase totalmente errada, algo como: “Não deixe suas crenças limitantes te impedirem de crescer”. Mas a descrição do que o protagonista sentia, não era uma crença limitante, era um traço bem claro do autismo, e isso é uma deficiência, nós não lidamos com as coisas da mesma forma que as pessoas que são neurotipicas, e não é porque os nossos problemas parecem “menores” ou “simples” de serem resolvidos, que eles devem ser tratados como crenças limitantes.
Por que estou contando isso? Só para ressaltar que existem vários motivos pelos quais a gente pode querer desistir de um livro, e esses motivos são completamente válidos.
Quem nunca leu aquele livro que parecia promissor, mas simplesmente não encaixou? A sensação de ‘falta de química’, como se o livro não fosse mesmo para você. E, muitas vezes, é difícil admitir isso, porque temos o medo de “errar”, e ai, engatamos naquele looping de questionamentos, pensando que o problema está em nós – que talvez a história melhore depois, ou que talvez o estilo do autor seja algo que não estamos “preparados” para entender naquele momento. Mas, e se, ao invés disso, o problema for o próprio livro? Às vezes, a obra não conversa com a gente. E tudo bem.
Eu gosto de pensar que a expressão “não é você, sou eu” pode ser um bom resumo dessa situação. E, sim, eu estou falando de uma relação entre o leitor e o livro. Às vezes, o livro não é o momento certo, ou o autor não conectou da forma que você esperava.
Além disso, para evitar passar por essas situações de investir tempo em livros que não nos agradam, algumas estratégias podem ser úteis:
- Primeiro: pesquise mais sobre os livros antes de comprá-los. Leia resenhas, veja o que outras pessoas estão dizendo, tente entender o estilo do autor. Às vezes, uma sinopse parece boa, mas a execução não é o que você esperava.
- Outra dica é confiar nas suas intuições. Não tenha medo de parar de ler algo se a história não estiver fluindo. Às vezes, é apenas uma questão de “mood” – você não está no clima certo para aquele tipo de livro, e tudo bem! Não precisa se forçar a gostar de algo só porque parece popular ou porque todo mundo está falando sobre aquilo. O que importa é o que você gosta de ler.
E se você acabou de comprar um livro que não quer continuar lendo? Não tem problema! Você pode doar, vender, ou até trocar em sebos. Eu sei que, às vezes, o valor pago por um livro pesa na decisão de desistir, mas lembre-se: sua paz de espírito e o prazer da leitura são mais importantes.