Segredos que se contam pela noite

Ler esse livro foi uma sensação gostosa de nostalgia, desde o comecinho, mas uma mistura de sentimentos porque eu realmente não sabia o que esperar dele, mas calma que eu vou explicar direito. Quando eu comecei a leitura, apesar de ter ideia do que ele falava, eu pensei que fosse ser um romance, que fosse girar em torno de uma coisa específica, e que aquele seria o foco, mas eu fui realmente surpreendida.

Contexto

Segredos que se Contam pela Noite nos apresenta Maya, uma adolescente marcada por uma infância complicada, repleta de responsabilidades e cicatrizes emocionais, causadas pelos vícios dos pais. A narrativa, embora leve, incomoda ao revelar a dura realidade que Maya enfrentou, coisas que uma criança jamais deveria suportar. Ainda assim, ela seguiu em frente, cuidando de seu irmão e tentando viver da melhor maneira possível

Após anos difíceis, Maya tenta se ajustar a uma vida aparentemente normal: tem uma amiga, as pessoas na escola já não a incomodam tanto, e as coisas parecem estar melhorando. Mas tudo muda quando ela começa a ter sonhos enigmáticos, que desafiam suas crenças e a fazem questionar se as histórias que ouviu na infância eram realmente apenas contos de fadas.

Desenvolvimento da História e Personagens

Um ponto importante que eu *talvez* tenha esquecido de citar: Maya conta com Luna, sua melhor amiga, que sempre esteve ao seu lado. A amizade entre as duas é forte, e começou de um jeito que fez com que as duas se vinculassem ainda mais. A dinâmica entre elas sugere um possível romance, principalmente por conta de algumas situações que se desenrolam entre as duas, mas a história logo toma um rumo inesperado.

A relação entre as duas é próxima, e a dinâmica entre elas evolui ao longo da história. Mas, o que inicialmente parecia ser uma história sobre os problemas familiares de Maya e um possível romance entre ela e Luna, rapidamente toma um rumo inesperado.

O enredo ganha uma guinada quando Maya conhece um misterioso garoto (que fique claro, nós podemos odiar ele), e os elementos de fantasia começam a se desenrolar.

De repente, o livro mergulha em uma mitologia muito interessante, remetendo à narrativa de histórias como Percy Jackson, sabe? Que, um adendo: não tem nada a ver com a escrita, apesar de ser fluida também.

E o que eu quero dizer com a comparação? Sabe a sensação de ter visto o Percy crescendo, descobrindo que é um semideus, filho de alguém que ele nunca pensou, tendo que passar por situações que ele só imaginava que existiriam em livros e em jogos? Então, todos esses detalhes que nos fizeram nos apaixonar pelo Percy, me fizeram me apaixonar pela Maya também.

A partir de então, (com o desenrolar de várias coisas simultâneas), Maya é levada para uma jornada em outro mundo, onde descobre seres e “pessoas” diferentes, pera ai, vou mostrar um trechinho pra vocês:

Essa história fala de um mundo antigo, onde reis e rainhas possuíam dons especiais, como o amor e o ódio. Um rei, Hélio, tinha o poder de controlar o dia e a noite, mas quando suas filhas gêmeas, Aurora e Yelena, nasceram, ele passou seus poderes para elas por meio de colares mágicos. Aurora, com cabelos dourados, recebeu a luz, e Yelena, de cabelos negros, ficou com a escuridão. As duas sempre se deram bem, mas após a morte de sua mãe e, mais tarde, de seu pai, a divisão de poderes entre elas trouxe tensão. Aurora governava o reino à luz do dia, enquanto Yelena ficava isolada, aprendendo a controlar seu dom noturno, temido pelo povo.

Quando o rei faleceu, ele ordenou que as filhas dividissem o governo: Aurora dominaria o dia e Yelena, a noite. Porém, o povo temia a escuridão e apoiava Aurora. Isso levou a uma guerra entre as irmãs, com Aurora tentando forçar Yelena a desistir de seus poderes. Yelena, no entanto, encontrou aliados entre os dons relacionados à noite, enquanto Aurora reunia aqueles ligados à luz. No fim, Yelena foi exilada, só podendo voltar ao reino durante a noite, o que conhecemos hoje como o ciclo do dia e da noite.

Ao ser introduzida nesse mundo novo, Maya é levada a tomar uma decisão importante (o que eu achei muito legal, porque nesse caso, realmente deram a ela a opção de escolher, não foi como a maioria dos livros que a pessoa é jogada na situação e simplesmente tem que resolver b.os eternos de seres mágicos).

Escrita da Autora

Ana Clara Borges tem uma escrita fluida e envolvente, que equilibra perfeitamente os momentos de tensão e descoberta com o desenvolvimento emocional dos personagens, além de conseguir fazer aquele negócio de tornar o livro um “page turner”, onde você não consegue parar de virar as páginas. (eu sei, eu nem precisava ter usado o termo em inglês, mas eu usei pra deixar chique).

Ela consegue transmitir a confusão e os conflitos internos de Maya de forma natural, sem apressar a trama, principalmente abordando temas e conflitos da adolescência de forma natural, e com personagens adolescentes que realmente agem como PERSONAGENS ADOLESCENTES. A autora ainda aborda a representatividade sáfica de maneira sensível e sutil, sem que isso seja o único foco da narrativa, mas algo integrado organicamente à história.

O que mais se destaca na escrita de Borges é como ela cria um mundo fantástico que ainda assim dialoga com a realidade, inserindo temas contemporâneos em um contexto mitológico. A fluidez da narrativa a quantidade e plots que você vai encontrar nesse livro, são feitas de uma forma natural e constante. Apesar de ter uma escrita descritiva, na medida certa, o livro foge do maçante e consegue “abraçar” várias faixas etárias, principalmente quem está na fase nostálgica de Percy.

Importante: O livro trata de questões importantes como o abuso de drogas e dinâmicas familiares problemáticas, mas a autora não romantiza e consegue lidar de forma coerente.

Minhas Impressões

Segredos que se Contam pela Noite foi uma leitura que me surpreendeu a cada capítulo. Como eu falei lá em cima, eu achei em vários momentos que o livro seguiria uma vibe romance, mas eu gostei demais do rumo que a história tomou.

As reviravoltas são constantes, o que me manteve engajada, e a forma que o quesito emocional de Maya foi abordado, me cativou.

(Nota especial para essa parte, porque eu realmente fiquei muito interessada e curiosa para saber mais sobre o mundo e a história dos outros reis, seres e enfim. Talvez entre aqui um pedido pra autora escrever algo só sobre o mundo e os tempos antigos?????? Quem sabe?).

A representatividade sáfica foi um elemento muito bem-vindo, inserido de maneira natural e agradável. Além disso, a evolução dos personagens, tanto emocional quanto em termos de responsabilidades, os torna orgânicos, o que cria um vinculo direto de identificação, ainda que seja um livro de fantasia.

Se você está buscando uma leitura leve, mas cheia de descobertas, emoções e um toque de fantasia, leia esse livro! A mistura de temas cotidianos com elementos fantásticos, somada à fluidez da escrita da Ana, faz com que a leitura seja fácil, agradável e envolvente.

Inclusive, devo dizer que o livro acaba deixando seu coração quentinho, e depois, a Ana vai lá e tira SUA PAZ COM O EPÍLOGO.

  • Idioma: ‎ português
  • Capa comum: ‎  386 páginas
  • Classificação indicativa: ‎ +16
  • Onde encontrar o livro: Amazon. Disponível no kindle.

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