Nosferatu 2024: Uma Obra de Arte Visual e Crítica

Eu sou simplesmente a pessoa mais doida por vampiros no mundo, e quando vi que um novo filme de “Nosferatu” seria lançado, eu fiquei completamente obcecada, ainda mais quando vi que a produção seria feita pelo Robert Eggers que simplesmente ganhou meu coração com o filme “A bruxa”, de 2015. Mas acontece que… não foi exatamente como eu esperava.

Contexto

Para quem não conhece, “Nosferatu” é um marco no cinema. O filme original de 1922 foi uma adaptação não autorizada de “Drácula”, de Bram Stoker. A produtora alemã Prana Film tentou negociar os direitos com Florence Stoker, viúva de Bram, mas ela recusou. Acontece que, Albin Grau e o roteirista Henrik Galeen queriam muito produzir o filme, então decidiram seguir a máxima do “copia, só não faz igual”, e criaram o Conde Orlok como uma versão alternativa de Drácula.

Mas Florence também queria muito ferrar com eles, então, processou a produtora, que faliu após o lançamento do filme. Parte da sentença incluía destruir todas as cópias de “Nosferatu”, mas, felizmente, alguns negativos foram preservados nos Estados Unidos, permitindo que o filme sobrevivesse (Informação retirada do Canaltech). Décadas depois, com “Drácula” em domínio público, eles conseguiram trazer a luz do dia o vampiro feiosão (piadinha).

Desenvolvimento da História e Personagens

Nesse filme, conhecemos Ellen Hutter (Lily-Rose Depp), uma jovem atormentada desde a infância por sonhos perturbadores, crises de epilepsia e um sentimento constante de melancolia (sentimentos esses, que levaram ela, ainda muito nova, a fazer um ‘contrato’ com Orlok, mesmo que não soubesse exatamente o que estava fazendo. Ela clamou por companhia, ele respondeu).

Tudo isso parecia ter cessado quando ela se casou com Thomas Hutter (Nicholas Hoult), mas a paz que Ellen encontrou começa a desmoronar quando Thomas recebe uma missão importante de trabalho: viajar para a Romênia e negociar a venda de uma propriedade para um cliente excêntrico, o Conde Orlok (Bill Skarsgård). Depois, você descobre que ele foi especificamente escolhido pelo conde Orlok justamente para deixar o caminho livre para ele e Ellen.

Ellen implora para que Thomas não viaje, temendo que algo terrível aconteça, mas ele acredita que essa é uma oportunidade crucial para sua carreira. A relação dos dois, que parecia tão sólida, começa a ser corroída pela separação e pelas forças sobrenaturais que se aproximam (Orlok destruidor de casamentos, prefere apenas as casadas).

A chegada ao castelo é cercada de estranheza: Orlok é cordial, mas sua presença é inquietante. O castelo é desolado, sem sinais de vida, e Thomas rapidamente percebe que está diante de algo muito maior do que uma simples negociação. Ele se torna prisioneiro de Orlok, servindo de alimento e lentamente perdendo sua sanidade, a clássica sequência que nós bem conhecemos.

Nesse momento do filme, várias outras coisas estão acontecendo em paralelo: Ellen volta a ser consumida por seus pesadelos e crises, agora mais intensos. Ela passa a viver com seus amigos Anna Harding (Emma Corrin) e Friedrich Harding (Aaron Taylor-Johnson), que tentam ajudá-la. Enquanto isso, Thomas continua sem mandar nenhum tipo de notícias.  

A chegada do Conde em Wisborg, na Alemanha, marca o início de um caos silencioso, quer dizer, nem tão silencioso assim, já que ele traz consigo um navio infestado de ratos (que coisa linda), o que torna a cidade uma incubadora da peste.

O Dr. Albin von Franz (Willem Dafoe), um personagem que ecoa o clássico Van Helsing, é chamado para tratar Ellen. Ele é um homem de ciência, mas também aberto ao inexplicável, reconhecendo que algo muito mais sombrio está em jogo.

Dá pra ver que essa parte do filme é “acelerada”, né? Estamos perto do clímax, onde todos os núcleos começam a se desenvolver ao mesmo tempo.

A conexão entre Ellen e Orlok se intensifica, culminando em uma relação tensa entre atração e repulsa, já que Ellen vive numa constante briga com o lado sombrio e todas as forças que existem dentro dela. A entrega final de Ellen ao Conde é ao mesmo tempo um ato de sacrifício e aceitação de seu destino, deixando Thomas como uma figura trágica que testemunha a destruição de tudo.

Roteiro e Direção

Eggers nos entrega um terror psicológico carregado de simbolismo (assim como ele já está acostumado, né?). Não espere jumpscares ou ação intensa – esse filme é um terror gótico que explora desejo, medo e a aceitação de um lado sombrio que tentou ser reprimido durante anos.

Devo fazer uma menção honrosa para fotografia do filme, que conta com uma vibe fria e atmosférica, com um toque que lembra o filtro do primeiro de “Crepúsculo” (HOA HOA HOA). Cada elemento visual, do figurino aos cenários, foi meticulosamente pensado para transportar o espectador para outra era, o que é uma marca registrada de Eggers.

Inclusive, vi num vídeo que o Eggers fez uma das figurinistas refazer mais de 20 vezes um único par de sapatos, simplesmente obcecado com a perfeição, né? (O sapato aparece por poucos segundos na tela).

Agora, os pontos nem tão fortes assim do filme:

Orlok, apesar de ter sido interpretado por Bill Skarsgard, que é um ator INCRÍVEL, não conseguiu chegar até o meu coração. E eu não digo isso por conta de sua aparência, porque desde o primeiro Nosferatu a ideia era justamente produzir um vampiro mais “selvagem”, mas por exemplo, por que ele falava o tempo todo como se estivesse numa caverna com eco, ou como se precisasse de uma bombinha aerolin pra dar uma amenizada na asma? Senti que essa carga no tom de voz, e esse “efeito” monstruoso às vezes tinha o efeito contrário: atrapalhava a cena.

Depois, vamos falar sobre Ellen, que tem o papel mais importante na história (praticamente), e apesar de conseguir ser enquadrada em cenas que estavam esteticamente lindas, eu não consegui sentir todo o drama e pavor na atuação dela. Não sei se foi porque eu queria que ela tivesse mais tempo de tela, ou se faltou alguma coisa no desenvolvimento, mas pra mim ela ficou só chata mesmo.

Sobre Thomas, eu não consegui me vincular a ela, o bichinho se esforçou, quase morreu, foi jogado de cima de um castelo, passou por uma vila e uma igreja com freiras, pra terminar o filme viúvo, vendo sua esposa na cama com o vampirão.

Minhas Impressões

Visualmente, o filme é uma obra de arte. A fotografia, a direção de arte e a música criam um espetáculo para os sentidos, e para os corações góticos e apaixonados por vampiros. No entanto, em termos de narrativa e desenvolvimento de personagens, o filme não conseguiu superar o impacto do original ou até mesmo, do filme Drácula (1992).

Nosferatu (Idem, Alemanha/França – 2024)
Direção: Robert Eggers
Roteiro: Robert Eggers, Henrik Galeen (inspirado no romance de Bram Stoker)
Elenco: Bill Skarsgård, Nicholas Hoult, Lily-Rose Depp, Aaron Taylor-Johnson, Emma Corrin, Ralph Ineson, Simon McBurney, Willem Dafoe.
Duração: 133 min.

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