“O Passado do Amanhã” me fez querer morar nesse universo

Se tem uma coisa que eu valorizo num livro de fantasia é quando ele consegue ser original, divertido e ainda me deixar com vontade real de morar dentro daquele universo. E foi exatamente isso que O passado do amanhã, da autora brasileira Giselle Arruda, me entregou: uma mistura de mitologia nova, viagens no tempo, e uma protagonista que carrega mais mistérios do que ela mesma imagina.

Contexto da história

A trama acompanha a Dolores (ou melhor, Lore) uma jovem que, após descobrir que tem uma doença genética rara, vai morar com um tio misterioso que ela nunca viu na vida. Só que a tal visita inocente vira uma espiral de acontecimentos bizarríssimos: objetos ganham vida, vozes surgem do nada (inclusive de móveis), e Lore encontra uma chave que basicamente vira sua vida do avesso.

A partir daí, ela descobre que é uma Sankh, parte de um grupo raro com a habilidade de transitar por diferentes vidas e tempos, tudo conectado a uma deusa poderosa e a uma profecia ancestral. Sim, temos aqui um prato cheio pra quem curte fantasias com elementos místicos e temporais.

Desenvolvimento da história e dos personagens

A jornada da Lore é recheada de elementos que instigam qualquer leitor de fantasia: uma profecia que a liga a sete vidas diferentes, personagens que parecem entrelaçados ao destino dela de formas que nem eles compreendem, e uma ameaça crescente encarnada na figura da Imperatriz (esse plot me pegou de jeito, tá?).

Lore passa de uma jovem pragmática e cética para alguém disposta a encarar um destino cheio de consequências, e que mesmo sendo do jeitinho dela, ela abraça cada uma das missões e “obrigações” que ela tem que desempenhar.

A relação Zarid, o típico personagem que começa irritante e depois te conquista, trazem camadas à trama, cada interação deles me deixava ansiosa por mais, e eu nem entro no assunto dos plots que envolvem esses dois (queria um Zarid pra mim!!!).

Outro ponto positivo: nenhum personagem aqui é raso. Até a vilã é bem construída, com motivações complexas e camadas que fogem do estereótipo. A história tem profundidade e consegue equilibrar ação, emoção e desenvolvimento psicológico de um jeito que eu sinto falta de ver em livros de fantasia.

Escrita da autora

A escrita da Giselle Arruda é rápida, leve e cheia de personalidade. Os capítulos são curtos, o que dá um ótimo ritmo à leitura, mas honestamente? Se o livro tivesse o dobro de páginas, eu lia feliz.

Dá pra perceber que ela tem domínio total da narrativa e da mitologia original que criou, que aliás é um dos grandes trunfos do livro. Os conceitos são criativos, fazem a gente pensar, e a forma como ela trabalha linhas temporais, vidas passadas e destinos cruzados me deixou de queixo caído.

É um alívio encontrar uma fantasia que não se apoia em fórmulas prontas, mas que realmente arrisca criar algo novo.

Minhas impressões

Eu amei a proposta. Sério. Um universo inédito, com regras próprias, panteão novo… tudo isso é ouro pra quem ama fantasia criativa e ousada. E mesmo que em alguns momentos os saltos temporais tenham me deixado perdida, isso não me fez querer largar o livro – pelo contrário. Só me deu mais sede de contexto.

Vale lembrar que viagem no tempo sempre dá um nó na cabeça. Mas aqui, se você tiver um pouquinho de paciência, sua mente vai explodir de forma deliciosa.

Lore é uma protagonista que evolui com realismo. Começa cheia de dúvidas e termina enfrentando dilemas enormes. Zarid, que era ranço, virou amor. E a Imperatriz? Uma antagonista que parece ter feito seis meses de terapia e fugido antes da alta. Complexa, perigosa, magnética.

Senti falta de algumas explicações mais claras, principalmente sobre os conceitos mais densos da mitologia. Mas nada que não possa ser resolvido numa sequência, e o final definitivamente abre espaço pra isso.

No geral, O passado do amanhã me lembrou que boa fantasia é aquela que arrisca. Que mistura o impossível com o emocional. E mesmo com algumas lacunas, esse primeiro volume foi uma estreia potente. Quero muito ver o que mais esse universo guarda.

Pra quem é esse livro?

Se você ama um livro de fantasia que foge do óbvio, com uma mitologia original, se diverte montando teorias temporais malucas e ainda valoriza personagens que parecem pessoas de verdade, esse aqui é pra você. Aviso: talvez você precise reler algumas cenas pra pegar todos os detalhes, mas isso só aumenta o valor da experiência.

Ficha técnica

  • Autora: Giselle Arruda
  • Título: O passado do amanhã
  • Idioma: Português
  • Formato: Ebook e físico. Encontre aqui.
  • Número de páginas: 200
  • Gênero: Fantasia contemporânea com toques de ficção especulativa
  • Tropes presentes:

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