Eu não poderia saber o que esperar desse livro antes de ler, qualquer coisa que alguém possa falar sobre ele é pouco para o que você vai encontrar nessas páginas. A experiência de ler “Os descaminhos de June Farrow” pra mim foi uma mistura de sensações. Eu tive romance, suspense, maldições, fantasia e ainda um assunto que eu amo: viagem no tempo.
Contexto
June Farrow é a última da linhagem Farrow, uma família que carrega uma maldição pesada: todas as mulheres enlouquecem, uma maldição que assombra gerações.
Criada pela avó numa fazenda isolada, quase esquecida no meio do nada, June vive entre o presente e os ecos do passado, tentando fugir do destino que parece inevitável: a loucura.
Ela não tem escolha, ou pelo menos acha que não tem. Por isso, abre mão de tudo que poderia dar brilho à vida, amores, construir família, qualquer laço que possa prendê-la a um futuro doloroso. Ela decide não deixar que mais uma Farrow passe pelo mesmo sofrimento.
Mas quando a avó morre, a vida dela vira do avesso. Entre objetos antigos e memórias, June encontra uma fotografia datada de 1911, que revela um casal misterioso. Isso acende uma fagulha de dúvida que ela já tinha guardado lá no fundo: o que realmente aconteceu com sua mãe? A mulher que desapareceu sem explicação e que a deixou sob os cuidados da avó.
A foto é só o começo, porque o que June vai descobrir vai desafiar tudo que ela achava sobre a realidade, o tempo e até sobre ela mesma.
Desenvolvimento da História e dos Personagens
Aqui, a história não se limita a uma linha reta. Adrienne Young brinca com o tempo, com realidades alternativas, criando uma teia complexa que prende o leitor. A fazenda Farrow e a cidadezinha de Jasper não são só cenário, viram personagens, fechados, quase sufocantes, mas vivos, pulsantes, cheios de segredos que fazem a tensão crescer a cada página. A autora mistura realismo mágico com pitadas de ficção científica, criando um clima quase onírico, carregado de emoção e mistério.
A ambientação é tão intensa que a própria fazenda vira um personagem à parte mesmo que o universo criado seja fechado, quase claustrofóbico, perfeito para a tensão que cresce durante a história, a ambientação é um sol no seu rosto, um dia ensolarado, uma fazenda nos eua.
Você encontra camadas TÃO profundas nessa história, que eu me peguei chorando diversas vezes só por pensar o que eu faria se estivesse na mesma situação. June é uma personagem que tem medos, angustias, sonhos, e muitas dúvidas. As outras mulheres Farrow aparecem como sombras do passado, cada uma com suas marcas, mesmo presas na mesma maldição, com suas histórias que poderiam render um livro só delas.
Tem também dois personagens que surgem, que são o verdadeiro sabor da história. Eles não são só coadjuvantes; suas presenças mudam tudo para a June e mexem com o que ela acredita sobre seu destino. Não posso entrar em detalhes porque aí vem spoiler gigante, mas pode confiar: o peso emocional deles é real e vai te pegar desprevenido.
No fim, a história não é só sobre maldição ou tempo. É sobre como as escolhas, mesmo as mais difíceis, podem mudar tudo, e sobre o que a gente carrega quando tenta fugir do próprio destino. Adrienne Young não entrega respostas fáceis, mas prende você nessa teia de emoções até o último capítulo.
Escrita da autora
Adrienne Young tem um estilo que mistura poesia com uma tensão constante, uma prosa que te joga direto na atmosfera pesada e carregada da vida das Farrow. A escrita me lembrou muito a do livro “A vida invisível de addie la rue” nesse quesito poético, e abre margem pra um ponto de atenção: ela não vai funcionar pra todo mundo, ela chega a ser lenta em alguns momentos.
A escrita não é densa, mas tem um certo peso que é quase palpável. A autora não entrega respostas fáceis; você vai ter que ir juntando as peças sozinho, o que deixa a leitura ainda mais envolvente. É aquele tipo de livro que te deixa pensando horas depois de fechar a última página.
Eu amei o primeiro contato com a escrita dela, e sinceramente? Queria mais. Muito mais.
Minhas impressões
Vou ser direta, eu amei o livro com todas as minhas forças! Mas eu entendo com todas as questões que são trabalhadas e a forma de escrita que infelizmente esse livro não vai ser pra todo mundo (triste, queria que todos conhecessem a June).
Ele mexeu comigo, tirou meu sono, meu chão, me fez chorar, me fez imaginar eu no lugar dela. Eu vibrei, eu fiquei pasma com certas cenas, eu fiquei agoniada, eu devorei o livro! Eu fui totalmente o público-alvo, pelo visto, porque o que eu senti lendo essa história, não tem nem como explicar.
Pra quem é esse livro?
Pra quem não tem medo de mergulhar fundo em histórias complexas, que curte suspense psicológico misturado com fantasia e ficção científica, e quer personagens femininas fortes, cheias de camadas, medos e segredos.
Também é pra quem não se importa com uma leitura mais lenta, quase poética, que pede que você participe, que monte o quebra-cabeça na sua cabeça.
Se você é da galera que curte quando o tempo não é linear, que passado, presente e futuro se embolam numa teia de mistério, e se interessa por histórias de traumas, maldições familiares e escolhas pesadas, aqui é seu lugar.
Autor: Adrienne Young
Título: Os descaminhos de June Farrow
Ano: 2025
Número de páginas: 352
Idioma: Português e Inglês (Encontre aqui).
Editora: Harlequin Books
Gênero: Ficção contemporânea, Fantasia, Romance, Mistério
Classificação Indicativa: 14+
Tropes no livro:
- Maldição geracional
- Viagem no tempo
- Amor proibido
- Romance de desenvolvimento lento (slow-burn romance)
- Realismo mágico (magical realism)
- Linhas do tempo paralelas (parallel timelines)
- Mistério familiar (family mystery)
- (Conheça mais sobre tropes aqui)