Eis que eu fui ler um livrinho bem leve, Raphael Montes tem essa fama, né? Só escreve coisinhas assim, e gente… tenho opiniões sobre esse livro!
Contexto
O livro já começa com um soco no estômago. No primeiro capítulo, acompanhamos Eva enterrando uma de suas filhas de forma nada convencional (diga-se de passagem), com umas falas extremamente estranhas, pedidos de desculpa e ações que indicam que ela está tremendamente arrependida por alguma coisa.
Depois, ela coloca a outra filha no carro, indo para uma via movimentada, entrando na contramão e jogando o carro em cima de um caminhão, com o simples intuito de praticar o autoextermínio. Sim, é isso mesmo. Aí você fica: tá bom, POR QUÊ? COMO? ELA É DOIDA?
No segundo capítulo, você tem um “flashback” onde você se vê um ano antes do acontecimento, e o livro todo segue esse formato, meses antes do ocorrido, semanas antes, e você vai acompanhando pra saber COMO o começo do livro realmente aconteceu.
Desenvolvimento da história e personagens
Eva é uma personagem difícil de simpatizar. Confesso que me senti EXATAMENTE quando li Verity (de Colleen Hoover): existe uma barreira emocional que impede uma conexão real. E por quê? Porque a pergunta que martela o cérebro é: o que justificaria uma mãe querer exterminar suas próprias filhas?
E a construção da personagem não ajuda a ser diferente, já que durante a gravidez e nos primeiros meses de vida do bebê, Eva demonstra sinais de uma depressão pós-parto MUITO grave e pensamentos EXTREMAMENTE perturbadores sobre o bebê. A sensação de afundamento psicológico é palpável.
Vicente, o marido de Eva, também não me desceu. Ele é pintado como o “marido perfeito”, mas, sinceramente, ele desempenha o MÍNIMO possível no cuidado com o bebê e ainda cobra de Eva as tarefas que ela fazia antes da maternidade.
As enteadas de Eva têm pouca presença direta no livro (com diálogos e cenas onde as duas estão sozinhas), mas sua importância para o enredo é gigantesca.
Mas vamos lá, onde a história começa de fato a acontecer? O ponto de virada acontece quando Lucas, o bebê, aparece com um ferimento grave na barriga logo após Eva ter um apagão de memória. Ela não se lembra de nada — de colocá-lo no berço, de como ela mesma foi parar na cama, de nadica de nada. Um apagão completo.
Acontece, que eu e o Vicente (e qualquer pessoa, eu acho), desconfiamos da Eva, por motivos óbvios, certo? O pior vem quando as meninas aparecem com vários machucados. Eles levam o caso pra escola, porque SÓ PODE TER SIDO LÁ.
Mas falando com a psicóloga da escola, as meninas falam que foi a Eva. E aí, meus amigos, é aí que mora o problema, a ruina da Eva tá feita.
Aqui entra a genialidade desconfortável de Raphael Montes: o constante clima de dúvida. A leitura me lembrou novamente Verity: é impossível confiar completamente em qualquer personagem ou versão dos fatos.
Um ponto importante:
Eva sofreu diversos abusos quando criança por parte de sua mãe, o que torna a situação ainda mais complexa e perturbadora. Esses traumas do passado contribuem para questionar sua sanidade e seu comportamento atual. Além disso, os pensamentos intrusivos que ela tem sobre o recém-nascido já acendem alertas de que talvez ela pudesse ser capaz de algo terrível. Nesse momento, você, assim como Eva, começa a se perguntar: será que foi ela a responsável?
E Eva também passa por esse momento, e é ai que Vicente entra em seu radar, porque ela começa a analisar a relação dele com as meninas, e ela descobre algumas coisas que podem ser muito estranhas (dependendo da perspectiva). Determinada a provar que ele é o culpado pelas agressões — e por outros abusos ainda mais sombrios (essa parte do livro é bem pesada e pode ser um gatilho) —, Eva inicia uma jornada desesperada em busca de provas.
NESSE MOMENTO, ESTAMOS QUASE ENCAMINHADOS PARA O FIM DO LIVRO, E MEUS AMIGOS, É NOVAMENTE ONDE AS REVIRAVOLTAS TE DEIXAM DE CABELO EM PÉ. Mas assim… o final? O final mesmo? Xôxo, capengo, anêmico. A pessoa que é a culpada NÃO TINHA NEM UM VESTIGIO, NÃO TEVE UMA DICA, UM NADA.
“Nossa, Anne, mas não é essa a graça?”, sim e não, porque eu acho que é ai que existe uma linha muito tênue entre dar pequenas pistas e deixar o leitor com cara de bobo no final do livro descobrindo tudo, e REALMENTE fazer o leitor de bobo.
Escrita do Autor
Raphael tem o dom das palavras, ele consegue te fazer ficar fisgado no livro de UM JEITO QUE NOSSA. Eu li o livro todo em um dia, porque eu QUERIA, eu PRECISAVA saber o que acontecia, como acontecia.
Mas esse livro não segue o mesmo padrão dos outros do autor, já que tem TANTAS PONTAS SOLTAS que você fica com aquela sensação de: “ué, realmente acabou?”.
Não senti que foi um final aberto daquele tipo que te faz ficar dias pensando no livro, tentando ver onde foi que o autor te enganou, mas sim daquele tipo que você sente que ainda faltava pelo menos mais umas 10 páginas de explicação pra algumas coisas fazerem sentido.
Quem era a moça no carro? Quem matou Alice? Quem era o amante de Solange? Dentre outras tantas perguntas.
Minhas Impressões
Sendo bem honesta? Achei fraco. O livro foi lançado após o filme de mesmo nome (2022), e talvez a história tenha sido pensada para a tela e não tenha funcionado tão bem no papel. Eu não assisti ao filme, e sinceramente, nem vou depois de saber o que realmente acontece.
Se você gosta de um suspense instigante e cheio de reviravoltas, pode se divertir com a leitura. Mas prepare-se para o desapontamento final. O livro serve como puro entretenimento — e só isso.
Então, pode ser que, se você não estiver acostumado a ler suspenses e livros do gênero, acabe gostando mais da experiência. Na verdade, pela raiva que senti durante a leitura, eu até recomendaria — porque, no fim das contas, entretém. Mas só isso, viu?
Onde encontrar: Amazon.
- Autora: Rapahel Montes.
- Idioma : Português
- Formato : Ebook e físico.
- Número de páginas : 352 páginas no formato físico.
Eu vivi esse livro juntinho com você, hein, e odiei junto kkkk